Judeus brasileiros contra a política militar
LEONARDO BLECHER
Da Folhapress – São Paulo
Diferentes grupos de judeus brasileiros contrários à política militar
israelense manifestaram sua crítica, ontem, na frente do consulado de
Israel em São Paulo. O protesto reuniu pouco mais de dez pessoas, mas
outras 100 assinaram uma carta aberta.
A palavra de ordem na rua do consulado era Não em meu nome, dita por
judeus - alguns vestindo quipás e outros, lenços palestinos - que se
declararam não-sionistas. Sionismo é o movimento que idealizou a criação
de um Estado judaico.
Nossa expectativa é mostrar que existe esse tipo de espaço dentro da
comunidade judaica, porque tem uma confusão muito grande entre
identidade judaica e identidade nacional israelense, disse Yuri Haasz,
42, um dos organizadores da manifestação.
Além do formato etnocêntrico do Estado de Israel, criticamos o evidente
desprezo a qualquer possibilidade de um Estado palestino existir, por
mais que no discurso ela exista, afirma Haasz, que nasceu na cidade
israelense de Haifa e mora no Brasil desde os 14 anos. Os manifestantes
leram os nomes de diversas vítimas do conflito, israelenses e
palestinos.
O cônsul de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, se disse preocupado com o
desgaste na imagem do país após a última operação militar em Gaza.
Logicamente isso tem prejuízo sobre nossa imagem e aceitamos diversos
pontos de vista", disse à Barnea. "Se do nosso lado não morreram 2 mil
pessoas é porque Israel toma medidas para defender seus civis, ao
contrário do Hamas. Eu prefiro estar vivo e condenado do que morto e
lamentado.
Já a carta aberta foi assinada por 100 acadêmicos, artistas e
profissionais liberais judeus de nove cidades brasileiras. Eles criticam
o governo israelense pela morte de civis e a política de construção de
assentamentos em terras palestinas.
Repudiamos a tentativa do governo israelense de culpar unicamente esta
organização [Hamas] pelas mortes de civis, inclusive mulheres e
crianças, em suas operações militares", diz o documento.
As manifestações são opostas à opinião expressada anteriormente por
instituições judaicas brasileiras, como a Conib (Confederação Israelita
do Brasil) e a JJO (Juventude Judaica Organizada), que justificam a ação
pelo direito de defesa israelense.
Durante o protesto em frente ao consulado, o diretor da Fisesp
(Federação Israelita do Estado de São Paulo), Rubem Daniel Duek,
discutiu com os manifestantes. Ele reclamou da ausência de críticas ao
Hamas. É difícil, por que eles querem aparecer e estão desinformando a
população, disse.
O cônsul israelense em São Paulo disse à reportagem que vai repassar ao
governo de Israel as críticas que vêm sendo feitas no Brasil.
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