Em meio à enxurrada de notícias que recebemos diariamente por meio das várias redes sociais que nos conectam e nos segregam ao mesmo tempo, passou quase despercebidamente uma notícia preocupante: uma pesquisa detectou aumento no antissemitismo na sociedade brasileira, mas o título esconde a complexidade do problema que – não nos surpreende – continua existindo, mas vem ganhando espaço a galopes.
Trata-se da pesquisa da Anti-Defamation League (em português, Liga Contra a Difamação), instituição judaica dos EUA que monitora há 5 anos o antissemitismo em mais de 100 países pelo mundo, que aponta o crescimento de 16% (em 2014) para 25% (em 2019) o universo de brasileiros que apresentaram visões antissemitas, ignorantes ou preconceituosas com relação aos judeus. Esta constatação se deu por meio de perguntas que questionam se os judeus são, na visão dos entrevistados, mais preocupados com Israel ou com o país em que vivem (ou mesmo nasceram), neste caso, impressionantes 70% dos entrevistados concordam que os judeus são, independentemente de serem nascidos brasileiros, mais leais a Israel do que ao Brasil.
A essa constatação, somam-se os seguintes resultados da pesquisa com os brasileiros: 1) 22% nunca ouviu falar do Holocausto; 2) 15% acham que os judeus exageram quando relatam a Shoah; 3) 55% dizem nunca ter encontrado com um judeu na vida; e 6) 63% acham que os judeus falam demais sobre nazismo e o holocausto.
Sob um ponto de vista sociológico, me saltou aos olhos ao ler estes resultados, o contexto de desconhecimento, preconceito e ignorância que se formou em torno, novamente, de nós judeus num país que nos acolheu tão bem e que, muitos de nós, daqui somos também, tão brasileiros quanto qualquer outro. Esse contexto é um terreno fértil para que se viralize uma narrativa de “nós contra eles”, uma narrativa que construa um inimigo comum capaz de unir o país, ou boa parte dele, contra. Não preciso, nesse momento, me ater a detalhes de como uma campanha de desinformação e difamação pode ocorrer, haja vista tanto a história da nossa comunidade como exemplos recentes no próprio Brasil: é possível ser tornado de amigo em inimigo mortal em apenas alguns toques de texto no Whatsapp.
Uma vez que no Brasil esse cenário ainda não tenha encontrado a chama que lhe acenderia, parece-me que nos restam duas opções: fecharmo-nos em nossas sinagogas, famílias e amigos acreditando que essa onda de desinformação não virará contra nós ou falarmos ainda mais, dialogarmos mais, nos aproximarmos ainda mais dos brasileiros que nos veem distantes. E isso não é inédito para nós, organizações como, por exemplo, a Unibes tem um papel fundamental na promoção e no respeito à comunidade por meio de ações exemplares nas áreas da cultura, educação e trabalhos sociais. E assim, tantas outras o fazem. Mas, é preciso mais.
Precisamos expandir nossa rede de sensibilização, mostrar e compartilhar os valores judaicos da paz e prosperidade. Do bem comum, do tikun olam e da tzedaká. Embora estejamos vivendo em tempos onde parece que os pilares da sociedade estão mudados, uma coisa não mudou, desinformação, preconceito e ignorância se combatem com informação, carinho e acolhimento. Nossa vantagem é que temos e cultuamos nossa história e, portanto, temos menos chances de errar. Atentemo-nos."
Cordialmente,
Floriano Pesaro
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