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O Globo
Eleito ontem novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor de Oliveira de Azevedo, 65 anos, arcebispo de Belo Horizonte, assume o cargo como um dos bispos alinhados ao Papa Francisco.
Com perfil moderado, tem procurado evitar polarização nos debates políticos, ao mesmo tempo em que deve levar ao mais alto posto da confederação a luta pela tolerância zero dentro da Igreja contra crimes de pedofilia.
Entre os vice-presidentes escolhidos, estão ainda o arcebispo de Porto Alegre, Jaime Spengler, e o bispo de Roraima, Dom Mário Antônio da Silva. Os dois últimos foram promovidos a arcebispos já na gestão de Francisco e são tidos como apostas pessoais do Papa.
A votação dos 296 bispos ocorreu durante à tarde, na 57ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP). Ainda hoje deve ser escolhido o primeiro-secretário da entidade, responsável por por comandar o dia a dia, enquanto o presidente cumpre função institucional.
Além de exercer a função de arcebispo, Dom Walmor ocupa posições de confiança do Pontífice na Igreja. A principal delas é como membro da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão da Cúria Romana formado por um grupo seleto de clérigos que assessora o Papa a zelar pelos valores da igreja.
Com frequência, o grupo produz documentos com posições sobre questões que estão na agenda da sociedade.
Natural da Bahia, Dom Walmor chegou a ser arcebispo-auxiliar de Salvador. Ele é formado em Filosofia e Teologia, e estava na Arquidiocese de Belo Horizonte desde 2004.
Em coletiva à imprensa, ontem, o bispo pregou a defesa dos mais pobres, da caridade e da justiça. Em entrevistas recentes, chegou a defender o casamento entre homens e mulheres, mas disse que a Igreja não discrimina ninguém.
Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, o arcebispo Robson Savio, que trabalha há 20 anos com dom Walmor, o novo presidente da CNBB tem perfil conciliador, mas sem deixar de se posicionar firmemente quando a situação exige. Ele destaca a proximidade do pensamento de Walmor com o Papa Francisco, conhecido por posições tidas como progressistas, principalmente no campo dos costumes.
— Ele tem muito clara a prioridade com as demandas da sociedade, e com todas as suas parcelas, incluindo as minorias étnicas, mulheres e gays. Mas não deixa de ser extremamente cioso com o direito canônico. A capacidade de diálogo dele é muito grande, principalmente entre forças políticas, além de saber delegar funções e administrar bem conflitos — afirma Savio, destacando ainda o perfil empreendedor de dom Walmor, que foi responsável por uma série de reformas estruturais nas igrejas em Minas, mesmo com escassez de recursos.
— O Walmor sabe a hora de se posicionar. Foi firme em se posicionar contra a sanha das mineradoras em devastar a natureza e pôr em risco vidas para explorar as riquezas da região, além de criar grupos para ajudar na restauração do que foi perdido.
“Nosso olhar deve permanecer voltado para os mais pobres, fortalecendo nossas ações no exercício da caridade, do amor, na busca da justiça, imprescindível para a construção da paz”, disse, em nota, o presidente eleito da CNBB.
— O novo presidente é um homem de centro, com posições lúcidas e altamente capacitado academicamente. Talvez essas posições tenham levado a sua escolha — afirma o chefe do Departamento de Ciência da Religião PUC-SP, Fernando Altemeyer.
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