CONHEÇA AS ORIGENS DA IGREJA GRECO-CATÓLICA MELQUITA
8/12/2014
A Igreja Greco-Católica Melquita é uma igreja oriental que encontra fiéis em diversos países do mundo, da Austrália ao Brasil. Conheça abaixo um pouco mais sobre sua história. (Imagem: detalhe de vitral na Catedral Católica Melquita da Anunciação em Roslindale, Massachusetts, EUA)
Significado do nome da Igreja
A palavra “melquita” tem origem no termo siríaco “malko”, que significa “imperial”, vocábulo originalmente pejorativo para designar os cristãos do Oriente Médio que aceitavam a autoridade do Concílio da Calcedônia (451) e do Imperador Bizantino. Foi atribuída a eles por não-calcedonianos (ortodoxos orientais). Hoje, esse termo, em geral, não é mais usado para se referir a outros grupos cristãos calcedonianos (consulte Melquita para a história desse termo).
O elemento grego refere-se à herança do rito Bizantino da Igreja: sua liturgia é um pouco diferente quanto à estrutura em comparação à da Igreja Ortodoxa Oriental.
O elemento católico é usado de modo geral para se referir ao fato de a igreja reconhecer a autoridade do Papa. No entanto, a palavra também pode sugerir participação na Igreja espalhada pelo mundo (consulte Católico). Segundo alguns teólogos, a Igreja Melquita da Antioquia é a “comunidade cristã contínua mais antiga do mundo”. Em árabe, seu idioma oficial, a igreja é chamada ar-Rūm al-Kathūlīk (em árabe: الروم الكثوليك), que significa, literalmente, católico grego.
História
As origens da Igreja Melquita Católica remontam ao estabelecimento do Cristianismo no Oriente Médio. Conforme o Cristianismo começou a se difundir, os discípulos pregavam o Evangelho por toda a região e foram chamados pela primeira vez de “cristãos” na cidade de Antioquia (Atos 11:26), sede histórica do Patriarcado Melquita Católico. Algumas famílias melquitas acreditam que um ancestral judeu ou pagão distante recebeu a mensagem evangélica de um apóstolo ou até mesmo do próprio Jesus Cristo.
Em virtude da forte migração a partir do Oriente Médio, que começou com os massacres de Damasco de 1860, nos quais a maior parte das comunidades cristãs foram atacadas, hoje a Igreja Greco-Católica Melquita é encontrada em diferentes lugares no mundo e não possui fiéis com origem apenas no Oriente Médio. Esse fato é chamado de “Diáspora”. Muitas pessoas nas Américas do Sul e do Norte, na Europa e na Austrália atualmente podem praticar sua religião nessa Igreja, que é intimamente ligada aos países por onde Jesus passou e nos quais seus apóstolos pregaram e propagaram o Evangelho.
A Igreja Greco-Católica Melquita tem suas origens nas comunidades cristãs do Levante e do Egito. A liderança da Igreja foi conferida a três Patriarcados Apostólicos dos antigos patriarcados: Alexandria, Antioquia e Jerusalém. A história da Igreja e sua relação com outras religiões podem ser resumidas em quatro momentos decisivos.
Resultados do IV Concílio Ecumênico
O primeiro momento decisivo foram os efeitos sócio-políticos resultantes do IV Concílio Ecumênico, o Concílio da Calcedônia, que ocorreu em 451. A sociedade cristã do Oriente Médio do século V dividiu-se categoricamente entre os que aceitavam e os que não aceitavam o resultado do concílio. Aqueles que aceitaram os decretos do concílio, os calcedonianos, eram majoritariamente habitantes de cidades que falavam grego e eram chamados “melquitas” (imperiais) pelos não-calcedonianos. Estes eram predominantemente siríaco-árabes interioranos ou falantes do copta.
União com a língua e com a cultura árabe
O segundo evento decisivo é mais um período de mudanças do que um movimento repentino. A Batalha de Jarmuque (636) tirou a pátria melquita do controle bizantino e a entregou nas mãos dos árabes muçulmanos. A língua e a cultura gregas permaneceram importantes, especialmente para os melquitas de Jerusalém, ao passo que a tradição melquita uniu-se com a língua e com a cultura árabes. De fato, existia poesia cristã árabe antes da chegada do Islã, mas essa fusão com a cultura árabe levou a um grau de distanciamento entre o Patriarca de Constantinopla e os patriarcas melquitas e seu povo.
Apesar da conquista árabe, os melquitas continuaram a desempenhar uma função importante na Igreja universal. Os melquitas tiveram protagonismo na condenação à controvérsia iconoclasta quando ressurgiu no início do século IX, e estiveram entre as primeiras igrejas do Oriente a replicar a introdução da cláusula filioque no Ocidente.
União com a Sé de Roma
O terceiro momento decisivo foram os Concílios de Reunião nos quais as hierarquias ortodoxas aceitaram a união com a Sé de Roma após um longo período de separação. Em 1054, o Patriarca Miguel Cerulário e o Cardeal Humberto da Silva Cândida excomungaram um ao outro, formalizando, dessa maneira, um cisma que se manteve por muitos anos. O Patriarca melquita Pedro III de Antioquia rejeitou a rixa do Cardeal Latino e do Patriarca de Constantinopla. Em 1965, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I “condenaram essas excomunhões ao esquecimento”.
No entanto, os Cruzados introduziram prelados latinos nas sedes apostólicas do Oriente, e a Quarta Cruzada presenciou o saque da grande cidade de Constantinopla e sua dominação pelos Cruzados por 57 anos. Esses acontecimentos colocaram a rixa Oriente-Ocidente a par de todos, mas não houve declaração de separação. Como nunca houve uma divisão formal a partir do cisma Oriente-Ocidente, esses “convertidos” dos missionários latinos simplesmente se tornaram um grupo pró-Ocidente e pró-católico dentro da ortodoxia oriental. Ao longo do século XVII, jesuítas, capuchinhos e carmelitas estabeleceram missões com a autorização dos bispados ortodoxos locais no Império Otomano. Os dominicanos estão no Iraque desde cerca de 1300.
No II Concílio de Lyon (1274) e no Concílio de Florença (1439), o Patriarca de Constantinopla e o Imperador aceitaram a união com o Ocidente na esperança de ajudar a salvar Constantinopla do Islã. Nenhuma dessas uniões durou, apesar de os dois últimos imperadores de Constantinopla serem declaradamente católicos; e não houve nenhuma ajuda significativa dos reinos antagônicos de uma Europa que, em breve, se despedaçaria.
A partir de 1342, monges da Igreja Católica Romana abriram missões no Oriente Médio, especialmente em Damasco, e sua doutrina teve importante influência sobre o clero melquita e as pessoas. No entanto, na tradição melquita, os jesuítas, criados apenas em 1534, foram realmente decisivos na formação do grupo católico no Patriarcado ortodoxo de Antioquia. Os jesuítas não eram monges, mas padres com sólida educação e que eram parte da Corte Patriarcal, o que lhes deu maior aceitação.
Eleição de Cirilo VI
O quarto momento decisivo foi a eleição de Cirilo VI, em 1724, pelos bispos melquitas da Síria como novo Patriarca da Antioquia. Como Cirilo era reconhecidamente pró-Ocidente, o Patriarca de Constantinopla, Jeremias III, achou que sua autoridade estava sendo questionada. Jeremias declarou que a eleição de Cirilo era inválida, excomungou-o e nomeou Silvestre de Antioquia, um monge grego, para a sede patriarcal de Antioquia. Silvestre exacerbou as divisões com sua direção autoritária da Igreja, e muitos melquitas preferiram reconhecer Cirilo VI como Patriarca. Esse domínio grego sobre o Patriarcado Bizantino ortodoxo da Antioquia durou até 1899.
Cinco anos após a eleição de Cirilo Tanás, em 1729, o Papa Bento XIII reconheceu-o como o legítimo Patriarca da Antioquia e acolheu Cirilo e seus seguidores em plena comunhão com a Igreja Católica Romana. A partir desse momento, a Igreja Greco-Católica Melquita passou a existir separadamente e em paralelo à Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia no Oriente Médio; a última não é chamada de melquita.
A Igreja Greco-Católica Melquita desempenhou um papel importante na liderança do Cristianismo árabe. Sempre foi conduzida por cristãos falantes do árabe, ao passo que sua contraparte ortodoxa possuiu patriarcas gregos até 1899. De fato, bem no começo de sua existência em separado, em cerca de 1725, um de seus líderes seculares mais ilustres, o sábio e teólogo Abdallah Zakher de Alepo (1684-1748) estabeleceu a primeira máquina de impressão do Oriente Médio. Em 1835, Máximo III Mazloum, Patriarca greco-católico melquita de Antioquia, foi reconhecido pelo Império Otomano como líder de um “millet”, uma comunidade religiosa distinta dentro do Império. O Papa Gregório XVI concedeu a Máximo III Mazloum o triplo patriarcado de Antioquia, Alexandria e Jerusalém, título que ainda é mantido pelo líder da Igreja Melquita.
Em 1847, o Papa Pio IX (1846-1878) restabeleceu o Patriarcado Latino de Jerusalém na figura do fervoroso jovem de 34 anos de idade Giuseppe Valerga (1813-1847-1872), que foi chamado pelos líderes nativos de “O Açougueiro” em razão de sua feroz oposição às igrejas locais da Terra Santa. Quando chegou em Jerusalém em 1847, havia 4.200 católicos latinos e, quando morreu em 1872, a quantidade havia dobrado.
Alguns historiadores desenvolveram a teoria de que as tentativas de Valerga de advogar a favor da conversão das igrejas locais foi uma resposta ao domínio do Patriarcado pela Irmandade Greco-Helênica do Santo Sepulcro. Outros creem que Valerga foi nomeado, para lidar com a ameaça do protestantismo imposta pelo Bispo Luterano-Anglicano de Jerusalém.
As tensões entre as Igrejas Latina e Católica Melquita se mantiveram no século XIX. O Patriarca Gregório II Youssef (1864 - 1897) opôs-se à infalibilidade papal do I Concílio do Vaticano. Youssef acreditava que a proclamação da infalibilidade papal causaria grande tensão nas relações entre as igrejas melquitas e as outras religiões cristãs orientais. Ele também falou incisivamente sobre preservar a condição autônoma das igrejas católicas orientais e sobre manter os direitos patriarcais; isso causou o descontentamento do Papa Pio IX. O sucessor de Pio IX foi o Papa Leão XIII e, em 1894, ele emitiu a carta encíclica “Orientalium Dignitas”, reforçando os direitos patriarcais e proibindo a latinização das igrejas católicas orientais.
A Igreja nos tempos modernos
Conflitos sobre as tradições latina e melquita na Igreja
O Patriarca Máximo IV Sayegh participou do II Concílio do Vaticano no qual advogou a favor da tradição oriental do Cristianismo, obtendo enorme respeito de observadores da Igreja Ortodoxa Oriental na reunião, bem como consentimento do Patriarca de Constantinopla, Atenágoras I. Sua defesa pela aceitação do controle de natalidade artificial foi notável, bem como muitas outras sugestões que deu no Concílio; essa proposta foi duramente recusada pelo mesmo Atenágoras na carta encíclica "Humanae Vitae" do Papa Paulo VI em 25 de julho de 1968.
Após o II Concílio do Vaticano, os melquitas dedicaram-se a restaurar o culto tradicional. Isso envolveu a restauração de práticas melquitas, como administrar a Eucaristia a crianças pequenas depois do crisma pós-batismo, bem como retirar elementos do rito latino, tais quais balaústres nos altares e confessionários. Nos tempos anteriores ao Concílio, os líderes dessa tendência eram membros do “Círculo do Cairo”, um grupo de jovens padres centralizado no Colégio Patriarcal no Cairo. Esse grupo incluía os padres George Selim Hakim, Joseph Elias Tawil, Elias Zoughby e Oreste Kerame, que, posteriormente, se tornaram bispos e participaram do II Concílio do Vaticano, no qual viram seus esforços justificados.
Essas reformas resultaram em protestos de algumas igrejas melquitas de que a “deslatinização” fora longe demais. Durante o Patriarcado de Máximo IV (Sayegh), alguns melquitas nos Estados Unidos contestaram o uso do vernáculo na celebração da Divina Liturgia, um movimento que foi liderado pelo futuro arcebispo de Nazaré, o padre Joseph Raya de Birmingham, Alabama. A questão atraiu a atenção da mídia nacional depois que o bispo Fulton Sheen celebrou uma Divina Liturgia Pontifical em inglês na Convenção Melquita Nacional em Birmingham em 1958, que teve partes televisionadas nos noticiários nacionais.
Em 1960, a questão foi resolvida pelo Papa João XXIII a pedido do Patriarca Máximo IV em favor do uso das línguas locais na celebração da Divina Liturgia. O Papa João também consagrou bispo um religioso melquita, o padre Gabriel Acacius Coussa, utilizando o Rito Bizantino e a tiara papal como coroa. O Bispo Coussa foi quase que imediatamente elevado ao cardinalato, mas faleceu dois anos depois. A sua canonização foi solicitada por sua ordem religiosa, os Basilianos de Alepo.
Ocorreram mais objeções contra a “deslatinização” da Igreja durante o patriarcado de Máximo V Hakim (19672000) quando alguns juízes eclesiásticos da Igreja que apoiavam as tradições latinas protestaram contra a permissão para se ordenar homens casados como padres.
Tentativas de unir a diáspora melquita
O Patriarcado de Máximo V viu muitos avanços na presença mundial da Igreja Melquita, o que foi chamado de “Diáspora”. Foram estabelecidas Eparquias (o equivalente oriental a uma diocese) na Argentina, na Austrália, no Brasil, no Canadá, nos Estados Unidos e no México em resposta ao contínuo esvaziamento do Oriente Médio de seus povos cristãos nativos. Alguns historiadores afirmam que, após a revolução no Egito em 1952, muitos melquitas deixaram o Oriente Médio em razão das políticas islâmicas, nativistas e socialistas renovadas do regime de Nasser. Em 1950, a comunidade melquita mais rica do mundo estava no Egito, em 1945, a diocese mais populosa era a Sede de Acre, Haifa, Nazaré e toda a Galileia; em 1955, a situação não era mais a mesma em virtude das medidas israelenses contra os árabes, tendo como alvo árabes cristãos e muçulmanos.
Em 1967, um egípcio descendente de sírios de Alepo, George Selim Hakim, foi eleito sucessor de Máximo IV, adotando o nome de Máximo V. Ele ficaria na função até se aposentar aos 92 anos no Jubileu do Ano 2000. Ele faleceu na festa de São Pedro e São Paulo em 29 de junho de 2001.
Nomeações ao Prêmio Nobel da Paz
Dois sucessores do Patriarca Máximo V na Sede de Acre, Haifa, Nazaré e toda a Galileia foram nomeados para o Prêmio Nobel da Paz: o segundo arcebispo, Joseph Raya (1968-1974), e o quinto e presente encarregado, o Arcebispo Elias Michael Chaccour, que é o primeiro palestino a dirigir a Sede e é também o fundador das Instituições Educacionais Mar Elias em Ibillin, Galileia. Ele foi ordenado para o episcopado em sua própria igreja em Ibillin e assumiu a Catedral de Haifa em 2006.
Tradições da Igreja
A Igreja Melquita Católica se encontra em total comunhão com a Santa Sé, mas segue inteiramente as tradições e os costumes do Cristianismo Bizantino. O idioma tradicional de adoração é o grego e o sírio aramaico, mas, atualmente, as cerimônias são realizadas em diversas línguas dependendo do país em que a igreja se localiza.
Dioceses modernas da igreja
O atual Patriarca de Antioquia e todo o Oriente, e de Alexandria e Jerusalém da Igreja Melquita Católica é Gregório III Laham. O patriarcado tem sede na capital Síria de Damasco. No Oriente Médio, a Igreja tem dioceses nos seguintes locais:
Egito — Alexandria, dirigida por um protosincelo.
Israel — Acre e Jerusalém (vicariato patriarcal).
Jordânia — Amã.
Líbano — Beirute, Baalbek, Baniyas, Sidon, Trípoli, Tiro e Zahlé.
Síria — Alepo, Bosra, Damasco (patriarcado), Homs, Lataquia.
No resto do mundo, a Igreja possui dioceses nos seguintes locais:
Austrália — Sidney (eparquia).
Brasil — São Paulo.
Canadá — Montreal.
México — Cidade do México.
Estados Unidos — Newton (eparquia).
Venezuela — Caracas.
(Tradução do verbete Melkite Greek Catholic Church da Wikipedia - acesso em: 30 de outubro de 2014)
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