Cidade do Vaticano (RV) - A ofensiva iraquiana em Mosul – norte do País do Golfo – contra o autodenominado Estado Islâmico (EI) foi desencadeada. Nestas horas decisivas são muitas as esperanças e os temores dos cristãos iraquianos. A propósito, a Rádio Vaticano entrevistou o bispo auxiliar de Bagdá dos Caldeus, Dom Shlemon Warduni. Eis o que disse:
Dom Shlemon Warduni:- “Queremos a libertação da grande cidade de Nínive e, em seguida, da Planície de Nínive, porque muitos cristãos e também muitos muçulmanos foram expulsos de suas casas nos vilarejos em torno de Mosul. Por isso, queremos a libertação, mas que seja uma libertação sem as armas. Porém, se vê que isso é impossível: o homem é carrasco, o homem que não ama Deus não tem consciência e não pensa nas crianças, nas mulheres... Nós queremos a libertação, e especialmente de forma segura, do povo, dos vilarejos: aqueles vilarejos e aquelas cidades onde vivemos há milhares de anos. Queremos uma libertação e uma proteção.”
RV: Mas se corre o risco de uma segunda Aleppo? Corre-se o risco de um assédio que leve um milhão e meio de civis a encontrar-se sob bombardeios?
Dom Shlemon Warduni:- “Claro, claro... E isso é o que não queremos! Mas nos dirão: ‘Vocês não querem isso e não querem aquilo!’. Certamente: Queremos nossos vilarejos, nossas casas, nossas propriedades. Queremos que haja paz e segurança, que deixem nosso povo viver de modo honesto e tranquilo: isso é o que queremos. Certamente muitas pessoas se depararão com as armas, sofrerão a destruição das casas... E isso não queremos! Porque essa gente que está aí não presta: destruiu as obras de arte, os vilarejos, as igrejas e também as mesquitas, infelizmente... Atribuímos a culpa às pessoas que os ajudaram, a quem lhes deu armas, munições, a quem comprou petróleo no mercado clandestino. E o mundo fica somente olhando. Bastaria não vender a estes suas armas, bastaria não dar-lhes dinheiro... Bastaria, bastaria e bastaria! Mas ninguém faz nada e assim se deixa o mal vencer.”
RV: O premier iraquiano afirmou que somente o exército nacional entrará, porque Mosul é uma cidade multicultural, multirreligiosa: por conseguinte, é importante que nenhuma etnia prevaleça sobre outra...
Dom Shlemon Warduni:- “Deverão assumir uma postura de consciência, levando em consideração que Deus existe e que Deus é amor; e não com rancor ou vinganças. Que as vinganças sejam deixadas de lado. Mas penso que isso não será possível: falta o espírito humano, falta o espírito religioso verdadeiro, verdadeiro... Esperamos, porque do contrário – infelizmente – haverá mais homicídios e será uma grande catástrofe para o Iraque, como se deu em Aleppo (na Síria) e em outros lugares.”
RV: O retorno dos cristãos a Mosul e às áreas próximas a Mosul pode ajudar para a reconciliação nacional iraquiana?
Dom Shlemon Warduni:- “Sim, pode ser que isso aconteça. Porém, não se sabe, porque quando há rancor, ódio e a vingança, não se pensa nessas coisas. Mas isto é o que queremos: a paz, a tranquilidade, e – se possível – que esta libertação se dê, como disse, sem as armas.” (RL)