terça-feira, 17 de março de 2020

Posted: 16 Mar 2020 07:20 AM PDT

Igrejas evangélicas, cada vez mais presentes na periferia de Paris, atraem imigrantes e convertem muçulmanos Foto: Reprodução /Aujourd’hui en France
Publicado na Época
“Até 18 de março, apenas cultos por streaming”, diz a página inicial do site da igreja evangélica The Christian Open Door, local de culto no popular distrito de Bourtzwiller, em Mulhouse, cidade francesa na fronteira com a Alemanha. Segundo informações do jornal Le Monde, a instituição pede que os fiéis não entrem na igreja e se conectem ao Espírito Santo de sua casa, através de uma tela de computador.
Essa igreja pentecostal — um ramo do protestantismo — foi identificada no início de março como uma importante fonte de contaminação pelo coronavírus. O Covid-19 se espalhou de Cotentin (Norte da França) para a Córsega e Guiana Francesa, depois que mais de 2.000 pessoas (incluindo cerca de 300 crianças) vindas de toda a França, inclusive do exterior e de países vizinhos como Suíça, Bélgica e Alemanha, reuniram-se nessa igreja, de 17 a 24 de fevereiro, como parte da Semana de Jejum e Oração.
Segundo o Le Monde, foi durante esse encontro anual tradicional, organizado pela The Christian Open Door, nos últimos 25 anos, durante a Quaresma, que dezenas de fiéis foram infectados pelo vírus, exportando-o a territórios que, até então, vinham sendo poupados.
Em conexão com o evento, no final da semana, foram registradas pelo menos 25 casos na Borgonha-Franco-Condado, cinco na Guiana, cinco na Córsega, três nos Altos Alpes, três na Mancha e dois na Nova Aquitânia, um em Paris e outro na região do Centro-Vale do Loire. Provavelmente, a lista está longe de ser exagerada, porque a participação no encontro não envolveu nenhum registro prévio, o que dificulta a identificação de outros pacientes em potencial.
Pastor e família contaminados
Entre os casos já detectados constam Samuel Peterschmitt, o pastor e anfitrião do encontro, além de 20 membros de sua família. “Não moramos na mesma casa, mas estávamos todos, filhos e netos, na igreja durante a Semana de Jejum e Oração”, disse ao Le Monde Jonathan Peterschmitt, um dos seis filhos do chefe da igreja de Mulhouse.
Desde o dia 2 de março, Jonathan, um clínico geral de 33 anos, está confinado, com sua esposa e seus quatro filhos pequenos em sua casa no Alto Reno, um dos departamentos mais fetados pelo Covid-19 na França. O número de habitantes infectados é de ao menos 162 casos, incluindo o do deputado do partido [de direita] Os Republicanos, Jean-Luc Reitzer, de 68 anos, hospitalizado em “estado grave” no hospital de Mulhouse.
Jonathan Peterschmitt não reabriu seu consultório médico na semana seguinte e espontaneamente “indicou” seu estado e o de sua família à Agência Regional de Saúde (ARS) por e-mail na noite de 1º de março. “Meus sintomas eram os de um vírus sazonal clássico, mas, considerando o contexto, fiz o teste, que deu positivo”, disse ele ao jornal francês.
No site da The Christian Open Door, seu pai, o pastor Samuel, exorta qualquer participante do evento com febre, dificuldades respiratórias, dor de cabeça, dores no corpo, gripe ou tosse para “se manifestar”, especificando ter participado do encontro evangélico.
“Nos eventos com menos público, éramos milhares de pessoas e, nos mais assistidos, entre 2.000 a 2.500 pessoas”, disse o Dr. Peterschmitt. Por isso, ficamos no mesmo espaço por uma semana, tocando as mesmas cadeiras e superfícies, compartilhando os mesmos banheiros, e eu não me surpreenderia que uma grande proporção das pessoas presentes no encontro tenha se contaminado com o coronavírus”, declarou.
Fundada em 1966 pelo avô de Jonathan, o pastor menonita Jean Peterschmitt, a igreja The Open Christian Door inaugurou em 2015 as imensas instalações onde a Semana de Jejum e Oração foi organizada em fevereiro. Elas oferecem 7.000 metros quadrados, compreendendo uma sala principal com capacidade para 2.500 pessoas, duas capelas para 400 e 150 pessoas e salas onde as crianças são supervisionadas, por faixa etária, por “monitores”, enquanto seus pais participam do culto. Muito ativa nas redes sociais, segundo o Le Monde, a comunidade que acolhe novos e futuros fiéis todas as noites de sexta-feira se declara uma “mega-igreja” evangélica, como aquelas encontradas nos Estados Unidos ou no Brasil.
  

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